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Arte e cura na busca por respostas

O que é Arte? Esta é uma das perguntas aparentemente simples mais difíceis de responder. 


Se Arte é expressão, ela existe desde que o homem fez seus primeiros gestos sobre a terra, desde que criou seu primeiro instrumento lascando, polindo ou esculpindo a pedra; desde que ele registrou nas cavernas as imagens do cotidiano – a caça, a guerra, a luta pela sobrevivência. 

Nós, contemporâneos, olhamos espantados estes traços que atravessaram séculos e que se parecem com os também primitivos desenhos de nossas crianças. 

Serão também Arte as imagens angustiadas de pessoas mentalmente perturbadas das quais podemos ouvir o grito das avalanches inconscientes? E o protesto mudo das pichações que agridem nossos olhos, mães dos coloridos grafites que se impõe nos palcos sem ingresso dos muros da cidade? 

Será Arte a favela que se equilibra como instalação milagrosa sobre as encostas, será Arte o jeitinho brasileiro, será Arte a corrupção e a miséria?

Se Arte é estética - o que é belo, o que é cafona, o que vale mais? Posto que sentimento é uma função racional pois pressupõe julgamentos e valores, e se cada indivíduo é um universo único, como pasteurizar os gostos? Cada momento histórico apresenta seus cânones, e eles ditam as preferências das massas e determinam o que é Arte para o mercado.

“O que é Arte” é uma pergunta sem resposta, é uma pergunta que gera mil perguntas, todas sem resposta também.

Tratar de Arte é pensar sobre a arte, é o que considera o assunto, circum-ambula o tema...


Muito tenho procurado o significado de minhas buscas. Será escrever uma tese para me legitimar perante a academia ou dar um significado profundo a tudo que venho fazendo? 

Será ciência, arte, prazer ou obrigação? Se toda a minha vida se equilibrou entre arte e cuidar, como dissociar isto agora? O sofrimento da exclusão – analisar ou ser empírica, sujar-se em tinta e expressar-se de corpo e alma?

A culpa de abandonar a medicina e entregar-se à fruição, ao trabalho de produzir textos tridimensionais... que também é, talvez até mais, um caminho árduo...

De onde saí? Preciso fazer uma imersão e retornar às origens... Deveria ter feito Belas Artes, mas fiz medicina, que por muito tempo foi um pesadelo... Hematologia Clínica, Hemoterapia, Análises Clínicas, Homeopatia...e de volta à arte através da arteterapia. 

O fascínio de acompanhar os descaminhos da loucura através das imagens, que desvendam os subterrâneos do inconsciente de toda a humanidade.

Entendimento que faltava 

O ano era 2007, refletia incansavelmente e me deparava com diversos questionamentos sobre a minha trajetória. O incômodo das paredes do consultório, o desejo de me aprofundar na arte e a impossibilidade de focar eram recorrentes na minha vida.

Antropologia, Ciência da Arte, Arte na UFRJ, Literatura Infantil, Neurociência... que labirinto é este que vinha percorrendo há 6 anos, de insucessos e impossibilidades. Eu me sentia fraca e sem persistência, inadequada e desqualificada.

Patinho feio, não encontrava o meu lugar, olhada com indiferença, condenação e até sendo objeto de piadas dos doutores das diferentes academias.

Depois, a sensação de ser traída por equipe de trabalho, falta de ética, pesquisas interrompidas... Eu me sentia desestimulada, com vontade de parar tudo e ficar em uma concha.

Mas aí me veio em insight a resposta para tudo. Seria mais um delírio, ou ponte de construção entre esses obstáculos em rede? Seria o começo da organização do caos, tão necessário a todo processo criativo? A minha ideia era original? Que importa? Nada é inédito, o processo criativo se imiscui entre as pessoas e trança o padrão do novo que já existia por todos os séculos.

Art Brut, Expressionismo – padrões de adoecimento – o corpo desenha os padrões psíquicos para expressar-se. O câncer é uma obra de arte que parte do inconsciente para plasmar-se e apresentar-se à pessoa – esfinge: decifra-me ou te devoro... 

... foi preciso organizar equipes de arteterapeutas em supervisão para trabalhar com pessoas portadoras de CÂNCER: não ter medo do nome, em primeiro lugar.

Coletar história, imagens, filmar os processos. Enquanto isso, estudar em grupo os temas acima na história da arte, sob a supervisão de algum especialista no assunto, e buscar as similitudes entre as imagens. 

Os pacientes passariam a olhar para a doença deles de forma criativa: o objeto plástico seria o próprio corpo, a ser transformado no material.

Desse modo, o inconsciente teria espaço para expandir-se no papel, tintas e cores – não haveria mais necessidade de sacrificar o corpo. Seria possível rasgar, esquartejar, fazer cirurgias na argila e, assim, expurgar a culpa do mundo no material expressivo.

Enfim, compreendi, essa é a Arte de cuidar de si mesmo.

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